quarta-feira, julho 10, 2024


Os nossos rostos surgem nos mais frágeis 
reflexos, como eles os recortam
não fazendo ideia com o que nos parecemos
e se jogámos tudo como danados
não poderiam saber que fomos
a descoberta feita uns
pelos outros, desmentidos tocados
de um modo que nem sonham
se sequer sabem como se diz
a luz que sobrevive sem se deixar prender,
e se queremos falar-lhes mais fácil
se torna fazer-lhes a guerra
quando nada dariam por esse antigo encanto
de ver passar, como a alma se cala
chegados àquela velha
doce indiferença, do outro lado
desses miúdos que ouvimos ainda
falar sempre de outros lugares
com um cuidado terrível
um modo inclinado de se dirigirem às coisas,
roubando os gregos e o vento
vindo de longe,
cada noite enchemos um copo
entre os restos desse enorme navio
que se negou e assim cumpriu
a mais estranha viagem,
uma que outra onda ainda
nos revira sacode
e o mar obriga-nos
a beber esse gole glacial
enquanto juntos levantamos a rede
num mudo entendimento diante
da vida e desse sol macio
que mal nos chega agora
no esforço de ler a última linha.


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