Na penumbra a roupa de cama lembra
um livro de ilustrações, tudo desfraldado
os lápis espalhados, o cheiro dela, o meu
essa sabedoria infernal das coisas do corpo,
peço-lhe tinta, e o golpe, esse impacto
de um bosque primaveril,
a superfície da tela canta e respira
e floresce, fico muito quieto,
calado assim tenho descoberto coisas,
venho de lá cheio de um pó que me
altera a cor dos olhos, e desse impossível
pigmento azul procurado
por tantos pintores,
vivo em doce confusão com o mundo,
se não temos nada para fazer, andamos
de carro, aceitamos algum convite,
toda esta gente é bela e estranha,
vive num carrossel de feira, a música é
terrível e doce, uns nunca desarmam,
as piores intenções caem-lhes bem
como as nódoas de vinho, outros
não passam de vítimas, alguns persistem
enredam-se no papel de parede
e por fim desaparecem,
na legenda lê-se que os anjos
eram figuras vistas através do desejo,
as expressões que apanhamos
no rosto desses miseráveis dizem-nos
algo mais, que há tantos tipos de predadores,
e que os piores o que mais gostam
é de brincar com o tempo, e de esperar
por eles em lugares como este.
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