Já não lhes sinto falta, às amantes todas
que não tive, às vezes até me falta o ânimo
para a ração desse cu fresco
com que me fazias contar, não sou
aquele rapaz de feições gregas que dorme
com a cabeça sobre as mãos, eu mal
me reconheço entre as marcas de abuso,
tantas linhas riscadas, perdi a fome
desse corpo que não se mostrou mais,
como se um mundo pudesse dissipar-se
ou deixar apenas um caroço,
pétalas corroídas, os insectos
que se infiltram na prece diária
junto com lembranças e intimações,
o que oiço aqui ao lado quando a garrafa
já está no fim: fazem planos, parece
que desta vez são muitos, e juram que vão,
largam amarras, mas e depois?
A pele desses sonhos começa a rasgar,
sei o suficiente como qualquer escritorzeco
que se ponha a anotar o que escuta,
sabemos o que se segue, como as ilusões
depressa azedam, aprendemos a dar cabo
de toda a ênfase, peço desculpa
provavelmente fiz mal em começar,
mas prefiro isto, chega-me bem a sugestão
seguida da inércia, o gozo de trair a espécie
e só aguardo o momento em que a luz
seja o suficiente para desfazer os homens
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