não tenho segredo nenhum, nada em mim
que se dissesse mais alto causasse
grande desordem,
mas não posso ser apenas uma coisa,
e vivo terrivelmente como sabes,
talvez se o fizesse por moedas numa esquina
uma nota decente me escapasse
atingindo em cheio alguém,
pedimos isto e o outro à luz,
e algo quase se mostra,
mas é o ouvido que realmente inventa
e pela música é possível esfregar-lhes na cara
outra sensação do mundo, o peso
de um cuidado que nos domina,
leva anos, e perdemos o nosso lugar
assim se ontem não te vi, faltou-me a coragem
o sentido da aventura, escondi-me
entretido a copiar cadáveres de insectos
para a pauta, zumbiam de roda
de uma taça de frutas, perdoa-me
a música que criámos deixa-me nervoso
ainda a oiço e refugio-me, por segundos
sinto que rejuvenesço
se alguém pudesse pagar este quarto
talvez a noite se deixasse compor
se pudesse lavar-me a roupa, pendurá-la
nos fios, deixá-la nas sebes, não, eu sei,
mas pelo menos come qualquer coisa,
queria falar-te de um tempo que houve
antes de tudo serem remorsos, o silêncio
era perfeito, parecia mendigar cada frase,
agora zumbe apenas, e as frutas
já ninguém as comeria, do podres que estão
Sem comentários:
Enviar um comentário