dantes os pássaros alimentavam-se
da carne de capitães mortos
persistiam os navios meio digeridos pela névoa
e os gritos frutificando rente ao infinito
algum rumor sem rumo regressando a terra
um anel ou um dente entre a espuma
e pelos sonhos entravam no corpo
as impressões de outros
escutadas em lugares onde se vivia
à míngua
entre a reclusão dos espaços pequenos
a dolorosa intimidade com as coisas
num país de olhos escuros
segurando o além a lâmpada latejava
e a água acordada sentia-o
nos nossos passos
peregrinos de tudo o que lhes chega
signos entre os quais se perde
a própria sombra
real irreal e o pingo que resta
até ao fim de tudo
e mesmo que os não sirvam mais
gira ainda sobre a mesa o anel bêbado
conversam alto por ali onde se abre
a noite magnética
e em volta das velhas cidades, quase
apagadas, corre ao mesmo nível
o rio de estórias
ainda que ninguém abra os cadernos
um trovão amadurece numa folha
de um girassol já escura a pétala
luz carbonizada de um grande tumulto
as sílabas húmidas
recitam a distância que somos
do nome à ausência
que te faz recair de novo em ti
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