devo saber-te de cor, porque tive
a paciência, fui hábil
rezava ao mais lento dos deuses
guardei muito tempo na boca um gole
do mais brusco vinho que esta terra nos deu
conhecido de poucas horas adivinhava
como o querias, virei a boca para o teu lado
e junto ao ouvido onde dorme uma abelha
disse-te o que sabia da vida sempre
atento às infracções e a corpos deitados
à luz de astros vergonhosos
e como manda a ordem erótica que se vá
por fora, devemos trair as sombras
enganar no vidro os nossos reflexos
trocar a flor pela carne, e entre membros
de cor verde desenhar gestos largos
como as estações, sermos dignos
de morrer por um provérbio
por um pouco de sal em vez de um rumo
não chamando casa a coisa nenhuma
pois se o mundo nem começou ainda
vem e deixa que te veja enquanto a luz muda
e sinta o ponto onde o dedo se enterra no queixo
a linha em que o instante se divide
então oiço algum verso vir de outra língua
como a mulher na sombra das ramagens,
e nós quietos, a falarmos um ao outro baixo
aproveitando tudo, e se já ninguém
sabe onde fica o coração,
que lhes dizemos senão que pode bem
ser aqui, onde a terra seca se abre
mesmo que passem anos sem que
uma gota caia está muito bem para nós
contando que seja difícil, que nos acusem
de todas as vezes de sermos absurdos
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