Aguardamos pela repetição do mundo
vivendo de restos, da prosa das noites
em voz baixa repetindo a posição das ilhas
os detalhes que decoramos no escuro
debaixo das pontes como dantes embarcados
separando os destroços de naufrágios
para vender aos turistas
dessas vagas ainda chegam a esta página
alguns salpicos
abres sobre a mesa um mapa antigo
e a luz eléctrica perde força,
o quarto é clareira, a colcha corroída
com a mão sobre a chama do candeeiro
moves as figuras e dá-te a sensação
de estares a sonhar imerso
numa luz viva mas tão distante do astro
que lhe deu corda...
Aí te achas, banido, e na água onde
o teu rosto se altera
outra semelhança se apropria do reflexo,
como de castigo as imagens que criamos
tentando despertar outra e outra vez
ou as listas que fazíamos para magoar o tempo
ouvir a sua música distante.
A memória serve-nos a sua cerveja
e na mesa ao lado um tipo alto magro
atraindo olhares curiosos
com os braços tatuados de pássaros
interrompe-se e esfrega as mãos
para desembaraçar a linguagem
e logo o seu bafo de lenda nos atinge
escreve tão depressa, e o mundo repete-se,
repete-se e ele colhe na água
entre mil gritos e tantos reflexos
os mais radiantes destroços
que lhe trazem à voz aquela precisão
e a brusca urgência de quem se afoga.
Sem comentários:
Enviar um comentário