Abre as mãos e mostra as pétalas
desse tempo, detalhes que deram cabo
de nós, a luz que depois
vinha colher os cacos, não sei
o que me dizem hoje, vejo uma idade
reduzida ao caroço,
as mesas de noite ainda entram pelo mar
há uma hesitação que persiste
como a terra momentos antes de ser sacudida
uma música que nos leva de um gesto ao
outro, como o sentires que algo se alterava
mudando uma laranja
de lugar, em atenção às sombras,
vejo o velho quarto e ela ainda
desfiada sobre a cama,
o mesmo aroma vivo como uma pedra
num eterno desequilíbrio, e oiço
o nome que me deves
atravessamos a rua atrás de nós próprios
ouvindo uns passos, e o aranzel
de quem se perde
são a melhor ocupação que temos
as ruas, e se vemos uma casa aberta
a louça tosca, pratos copos
entramos pedimos trabalho
inventando o que nos gostaria mais, eu
nas histórias de breve moral prefiro
o ladrão, o que menos se explica,
estes a quem nunca se ouviu
um pedido de desculpas, nenhum lamento
como certos insectos armados
da sua canção capazes de dar um nó
ao vento, presos por um fio íntimo
assistindo à lenta e doce metamorfose
do mundo, mostraste-me as mãos
e não se lia já
coisa nenhuma, era bom
se tivéssemos sabido ficar quietos.
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