Eu devia jogar esta noite, fosse
no que fosse, sinto no sangue uma tal
adesão à vida, mas não quero apostar
num número e com o sentido torna-se
impossível, o gosto de certas noções
é o suficiente para nos dar cabo da vida,
não se aguenta a vulgaridade
daquilo que emerge pouco depois,
e assim vamos vivendo de recortes,
cada um com os dedos sujos
de apertar contra si o que lhe aparece,
e um tipo interroga-se sobre que coisas
realmente estão ao seu alcance,
esse rastro íntimo de que vimos
e que um dia mais tarde nos atinge
com todas essas zonas ainda selvagens,
aquela lua que se trafica no auge
das palavras, o riso de quem fica
e gosta de saber das horas sentado
aos pés de um muro corroído pelo sol,
isto anima-o, a suave desordem da vida,
e junto ao ouvido diz-te tu
estás aqui pela bebida, bebe então
o que puderes, e retoma
os aspectos perdidos, o nome que te leva,
as superfícies onde ainda podes
raspar os lábios, perder a boca,
se for alguma coisa um poema pois
deve ser isso.
Sem comentários:
Enviar um comentário