quinta-feira, outubro 05, 2023



A tua hora assobia no corredor,
reviras a caixa de sapatos
as imagens os rostos que se vão perdendo
até já não sermos capazes de pousar
o olhar em mais ninguém,
os nomes que ficam a segurar a ausência 
os lugares ansiando outras conversas
um monte de ervas amargas
e que não consigo arrancar, tudo
sem que os nós ao longo do fio
cheguem para contar alguma história.
O firmamento vai caindo aos poucos
por trás da casa, não sei
explicar como os céus se quebram,
fica escuro tão depressa, logo
alguém reza a teu lado e não percebes
metade do que diz, que traço de água
e luz poderia fazer algum sentido disto
a raridade do prazer que procuramos de noite
a doce passada dessas noites incompletas
quando os corpos na sua lenta rotação
por vezes se tocam, falam entre si
sem se perceber o sexo e nem
que espécie de intimidade é aquela
cheia de hesitações e atrasos
da distância e do fascínio que os governa
e nos alcança e corrompe,
a sensação de que do desejo já viram tudo,
e de que o amor não lhes serve de nada,
as sombras que despem, os nomes 
com que seguram a própria ausência 
o caos afinando cada instrumento, 
entontecidos de música cambaleiam
como se flutuassem entre as sobras
de um mundo que se esquiva,
sigo-os e fica-me o dedo escuro
da obsessão dos círculos, das curvas,
do desenho, a linha quente onde tudo
por fim se despenhou


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