sábado, setembro 09, 2023



Vem de lá pondo os pés entre o que cantam
os grilos e vem sem o menor barulho
uma mão acesa antes de lançar 
o cigarro e pôr fogo ao horizonte
despe a camisa e ainda tem o mar
como num verso de que me lembro
antes de riscado, era isso e a predilecção
que havia então por pássaros, e eu hoje
só penso neles quando mais nada
pode ajudar-me, é fácil estragar a vida
por um excesso de adesão às palavras
mas o sagrado é outra coisa.
Anda por aí um som que não se pode reter,
e talvez só a dor que sobra para o silêncio
lhe seja fiel, queremos repetir um pedaço 
e logo nos escapa talvez seja
porque seguimos alguma canção
dentro do esquecimento, 
os dons imprudentes de quem se perde mais
e depois o odiado sabor da irrealidade
que enfim recai sobre nós,
já não sei o que inventar para te chamar
gostamos dos antigos enigmas debaixo
dos mesmos astros, como nos parece
que as coisas gostassem de ficar dispostas
perto da morte, esse gosto de ir daqui
sem levar nada deixando como bilhete
a melodia da nossa ausência.


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