Ainda há quem com isto só queira dar espaço
à pobreza, os olhos vindos de tantos sítios
misturando os detalhes, o cuidado
das formigas ao carregar o resto de uma estrela,
alucinadas pelo brilho que morre na erva,
dou-te o exemplo também desse rapaz
esfomeado apreciando a vista
sobre o ombro dela, como gosta de esconder
parte do rosto, defender-se dos dias
seguindo a linguagem e os gestos
entre a vaga crónica de sonhos e pesadelos,
no quarto dela entregue a um balanço
desarmante, com as edições de bolso
e alguns alperces quase secos,
a semelhança de certas horas com a paixão,
os nus pintados de forma grosseira,
os mais doces ainda inacabados,
aquele quadro onde o olhar de cada um
sente o prazer de se deitar como o orvalho
sobre um campo de flores, e depois
a suave radiação das distâncias, algum sinal
de vida onde os caminhos se cruzam,
aquele que beija a fechadura, e o outro
que abana a cabeça até esta lhe cair
e há por fim tanto a aprender com o que não
acontece, ou não é para nós, essa desolação
de passear pelo museu do impossível
o gozo de introduzir o esquecimento
no mundo, e as palavras como formigas
carregando a doçura que nos resta.
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