São os hábitos dos outros o que nos acorda
e vês-te desconjuntado com a mão
ainda perdida de ter folheado a noite,
na boca o gosto de algum corpo que se vai
fazendo impossível hoje, como o desejo
e que banhos se tomam que música pelo prédio
com a canalização o ferro das camas rangendo
que banhos e que água doce marcando
na parede a leve oscilação de outras marés
ali na calma derrota dos quartos
depois de nos ter aborrecido a batalha
estendes a mão para a janela feita a lápis
e tocas o fruto persistente apodrecido
agarrado ao ramo como uma lembrança
do mesmo modo que ela tinha o hábito
de pesar nas mãos um pêssego
até este apodrecer, e eu não sei fazer
melhor, junto migalhas,
botões, dentes, ofereço-lhes a trégua
de um sentido, sinto-o no conjunto
tal como os surdos ouvem música
através dos ossos
e entendo o que a morte quer dizer,
não um final rude e absurdo mas aquele
trabalho contínuo, riscando
livrando-se do excesso, impõe-nos a força
da elipse, dando cabo da memória
sem antes nem depois ficam só as partes,
lábios de pedra abertos, nem homens
nem deuses, apenas essa canção
feita dos restos.
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