No final ferido de tudo o que nos suplica
alguma continuação,
só te resta dilatar a sua sabedora agonia
na ternura progressiva dos teus passos,
a volta em que se cumpre o que és,
entre glaciares, penhascos retorcidos
pedregulhos e ervas daninhas,
margens sensuais canoras, a sábia indolência
com que uniste as partes dispersas dessa consciência,
o aspecto da água
resistindo a reflectir seja o que for
traz à superfície imagens novas
por meio dessa invenção gradual,
o sal, os dedos demorados num tremor,
soberbos restos de navios
que atravessaram a morte com sua luz tão frágil,
do mesmo modo as estrelas vincam o espaço
e há flores capazes de conter a noite inteira,
um perfume chega a soar como um concerto
e podemos então fechar os olhos,
seguir nomes que não os nossos
até quartos onde nunca entrámos,
e ali provamos esse gosto íntimo
que tanto invejámos olhando a vida de longe,
logo chega até nós a convulsa memória
das coisas que nos aguardam,
arrancamos as ervas de tantos volumes,
a nossa letra deixa-se recortar
entre climas diversos
entrelaçada no esqueleto paciente
de homens em quem o sol se pôs,
vemos o trigo que cresce
entre toda a carne
e esse eco que nos fez sentir desterrados.
Para levantar a moral algum de nós
entretém as questões mais absurdas,
geniais, insuportáveis:
E o mar que diria se ressuscitasse?
Sentimos as raízes revolverem o mundo
cá dentro, e agarramo-nos
o melhor que podemos
sendo certo que nada há de mais próximo
que uma canção,
ou a sensação de a ver acender um cigarro
nalgum desses fogos
que ateavam os antigos sonhos.
Para me compensar do seu silêncio
talhei um eco perfeito,
uma primavera movendo perseguição
aos detalhes e suaves semelhanças
em que ela se reconhecia,
e passava depois os dias deliciado
convencido de que a ouvia aproximar-se
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