Não pode tudo ser tão belo nem tão
suave, mas fiz este lugar à tua volta
copiei o melhor que sabia as árvores plantas
frutos e pássaros, desenhei sobre o muro a linha
de água alta e definida de tudo quanto
esperávamos, assim deixamos
que seja a vida a procurar-nos. Cada manhã
algum de nós levou já as coisas longe demais,
bebeu os copos servidos por provocação
e a sós entre acordes entorpecentes
sentimos o silêncio alterado, com a flor que
preferimos, tentando controlar as ideias
fazemos contas, medimos com o olhar
distâncias exaustas relemos papéis listas
escritas à mão riscadas e perdem-se amantes
vícios estupendos noites submergidas,
de uma viagem ou até de alguns anos
mal se aproveita uma frase, a sombra de castigo
numa fotografia em que estamos os dois,
esses quartos de hotel ao sabor de outras eras,
talvez ali, gostamos de dizer apontando o fim
o ponto onde o esquecimento parecia
a única saída, como hoje o mundo antigo
é onde há ainda um baile e um abrigo para nós
a luz resguardada do âmbar à cinza,
essas impressões vivas e a roupa tingida
presa na corda que corre de uma vida a outra,
a trazer e levar sinais, formas, a matéria de que
são feitos os ecos ou o efeito da expansão
do universo na minha e na tua intimidade.
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