Um prato de fruta no meio desta estação
derrotada parece uma amálgama
de heresia e de lamento
agora que nem da rede que tinhas
para as borboletas consegues desenredar
uma réstia de luz, se ao menos tivesses
estudado Deus as suas intenções,
o detalhe e a singularidade esse travo
que te impelia para o verso seguinte,
se pudesses ter feito outro caminho,
se hoje mal recordas os dias de juventude
aquela paisagem de tigres enterrados
parece-te impossível pintá-la agora
até pelo estranho e inebriante perfume
das flores, antes da tinta ter perdido
o viço, ou a sombra
a sua estranha entoação, um rumor
ferido, conhecedor das estórias
deste planeta carnívoro.
Melhor é ter vivido o que te importava
alguma coisa rara absurda teres-te já
despedido do que estar vivo
por esse mórbido desejo de ver
o que se seguirá,
a desaparição das coisas,
o cheiro a despegado, os espasmos
a perda de vigor e a beleza de lado,
a água bebendo imperceptíveis reflexos,
cada som a demorar-se para ganhar o gosto
do que queria dizer até por fim
tudo ficar dito de qualquer maneira
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