O norte que há muito se tem apontado
não chega, preferimos sóis mordendo-nos
a carne,
o impulso de uma estrela dentro
como se nos descosesse,
e vamos em números que ninguém
se atreveria a contar
enquanto de nós se inventam
relações miseráveis, fantasias absurdas
o que nos torna impossíveis de tão belos feios
esses degenerados intratáveis
culpados das desaparições mais inexplicáveis
infortúnios talvez excessivos, mas seja
servimos o horror tal como se espera de nós
e ainda "a espuma do mundo subterrâneo"
exigindo que a mesa seja posta aí mesmo
olhando a cidade eu faço os horários
para o fogo central,
incêndios que tornam os olhos mais vivos,
capazes de esgotar a existência
e gasto a juventude necessária,
vinco bem as saídas, as zonas onde melhor
se apanha a transmissão os sinos espalhados
ao longo das eras, tenho escutado
coisas de um tempo já livre de mim,
e agora só tenho de deixar-me ser morto.
O vento vai-me fazendo resumos,
oiço os frutos caírem nesta terra ameaçada,
rasgam-se beijam-na, sentimos os passos
que virão e como tudo ficará mais claro.
Na direcção da noite
há um subtil declive nas coisas,
vamos sendo afinados
os ouvidos alimentam-se à distância
sendo todos eles sobrenaturais.
Com uma pedra sobre cada conversa
para segurar as ideias que nos visitam
sabemos que se continuarmos
faremos por fim um sentido desgraçado.
Mal temos tempo para respirar,
uma paisagem circula entre todos,
vastíssima, cheia de luzes e movimento,
o espaço lavado alerta e o sentimento
também abre, a vida deixa-se tocar
lemos os reflexos nas suas escamas,
a descrição de uma gota de sangue,
a nota mínima que vem agitar-nos
e se mistura, tudo o que devia desaparecer
e o tempo empurra até se embebedar
depois luta para conservar a sua embriaguez
firmando esse estranho eco que cresce
ganha ímpeto, e alguém puxa a toalha
da mesa para segurar as formas aparecidas
sombras de flores que nunca vimos
essas flores de ida e volta
o intenso perfume os nomes a vibração
e a luz alta que as recorta com esse detalhe
que perseguimos com tal ganância
que nos vemos uma e outra vez expulsos
dos nossos próprios sonhos
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