Já só a música tem a paciência necessária,
daí a inveja dos que a trazem na cabeça,
vivem com as marcas os arranhões dela,
tomam banho com os andamentos
e ainda tiram dos ruídos de madeira,
dos passos furtivos de algum vizinho devastado
outra nota. Depois do último trago
viramos os copos auscultando as paredes,
buscando o estalido secreto.
Não temos tempo para outros corpos,
apenas ocasionais ameaças, os tantos cansaços
da beleza, desastres que a ti ou a mim não
dizem coisa nenhuma. Mas seria bom
ser seguido e rasar os muros,
ferir levemente os nós dos dedos.
Na descoberta dessas canções malditas
estamos nos porões de navios que se perderam,
e não é a noite certa nem queremos
falar do regresso,
e os fantasmas de merda por uma vez
parecem calmos, distraídos,
visitando os objectos de outro tempo.
Escrevo-te a mesma carta como faço
desde há anos, guardo no bolso
a última pedra deste mundo,
esta caindo lentamente sobre o meu peito
até esse peso ser tudo o que sinto.
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