quarta-feira, abril 19, 2023


Tem uma pele de puta de que eu gosto
ainda que me custe, cheia de sinais,
coisas difíceis de ler, lembranças e sombras
de quem vai e volta,
diz-me coisas absurdas e eu finjo
entender, depois
temos algumas regras, não posso
fazer-lhe a mesma pergunta duas vezes,
e nossas temos poucas coisas,
o dinheiro para as laranjas, a mesa 
onde vou limando estes galhos,
uma cama a um canto, 
na cozinha as coisas descobrem o seu lugar,
no quarto ninguém sabe, os corpos
descosem-se, as espécies trocam entre si
traços fundamentais, tudo nela
me obriga à moderação, a desfazer
em trocos a paixão, a perder tempo
com os detalhes, os ossos ao redor da boca,
as cordas, o sopro, a sensação
de que os outros sabem, este orgulho
em ser só mais um.


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