quarta-feira, abril 05, 2023


Que tal é o livro?,
queres saber ao fim de uns dias
sem trocarmos mais que palavras ocas,
os cumprimentos frios, e eu não sei
e demoro o mais que posso a decidir
sobre o que é, ou se sequer
se gosto dele. Prefiro essa dose de paz
e de absurdo, descrições feitas de graça,
quase desinteressadas e tudo
sem nenhuma moral à vista,
a forma como o ritmo se entranha
e amolece qualquer juízo.
Queria dizer-te isto,
que me agrada o modo que têm os pássaros
de contar tudo de novo, tudo na mesma,
e como soam cada vez melhor,
como os homens só o conseguem
ficando próximos uns dos outros,
mas calados, sem se mexerem muito,
como é melhor ficar deitado a ver o tecto
desfazer-se sobre nós, e não responder
nunca mais a outra pergunta
a menos que nos leve a algo melhor,
e que estou cansado de todas essas voltas,
esse esforço todo, e como no fim
isso se cheira na fibra dos lençóis,
esse desagrado, esses restos
de antigos sonhos
que infectam os colchões.


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