Dizem que podemos esperar pela chuva,
atirar um número alto e contar ao contrário.
O céu olha para a terra e vê
de forma diferente um odre bebido,
um crânio abandonado.
Mas nós estamos sujeitos à inclinação
e de tanto seguir esses rastros
perdemos aquele método obscuro
de fixar os detalhes que nos animam,
os olhos enredando-se entre vegetações
onde os relâmpagos se demoram,
gritos outrora em fruto agora
espalhados, abertos, começando a apodrecer.
A terra estremecia ainda ao ouvir a notícia
de que este ou aquele se tinham ido.
Não sentia tanta fome que desejasse
os seus corpos, e lembrava-se
de como a paixão lhes arrancara em tempos
notas que este mundo nunca ouvira.
Mãos que trabalharam na claridade,
nos mais vivos enigmas, no espanto
que liga certos instantes.
Parece que os nossos passos
hoje respondem à sua ausência.
A noite deixa à seguinte num envelope
algumas sementes
depois de esmagar a boca de tantas flores,
é fácil então decompor a distância:
o livro, o copo e a água tremendo
apenas viva para o eco,
e tudo o mais submerso.
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