Sob as constelações esta garrafa ao centro
da sala, com a laranja no gargalo
e o vinho que em baixo respira e amadurece
unindo o dia à noite. Essa porção ínfima de luz
abrasando tudo, a mesa e os alimentos,
como lâmpada arcaica mudando as estações
até que a erva cresça e nos cubra a cama,
se cristalize o mosto mesclado com estrelas.
Desde há uns anos a casa esconde-se
por trás dos objectos, tudo se turva,
a própria mão se a estendo parece perder-se
e ao seu domínio lento entre as sombras.
Há cada vez menos janelas, nas ruas um vento
gaiato sacode o estendal e apalpa a infância
de outro mundo. Aqui uma corda pende,
mas não resta uma só cabeça a que chegue
o sangue revolvido por um brilho absurdo
e levante o escuro. Como mortos de boca aberta,
aguardamos a golfada de ar, a frase que recorda
como a vida começa, um coágulo duro
rodando sobre o seu interior, iluminando-se
contra a fraca matéria ao redor.
 
 
 
Sem comentários:
Enviar um comentário