quinta-feira, fevereiro 07, 2019

Glosa ou plágio?


"O Coração", de Stephen Crane (1871-1900)

No deserto,
vi uma criatura nua, brutal,
que de cócoras na terra
tinha o seu próprio coração
nas mãos e comia...
Disse-lhe: «É bom, amigo?»
«É amargo - respondeu -,
amargo, mas gosto
porque é amargo
e porque é o meu coração».

(in As magias; tradução de Herberto Helder)


"É hora faminta", de Giuseppe Ungaretti (1888-1970)

É hora faminta, a tua hora, louco.

Arranca o coração.

Sabe o seu sangue a sal
E sabe a azedo, é adocicado por ser sangue.

Tornam-no, tantos prantos,
Cada vez mais saboroso, o teu coração.

Fruto de tantos prantos, esse teu coração,
Arranca-o, come-o, sacia-te.


Foi Vasco Gato, que está a traduzir a poesia completa de Giuseppe Ungaretti, ("Vita d’un Uomo, Tutte Poesie"), para a nova coleção «Itálica», da Imprensa Nacional, quem deu por esta curiosa similitude entre os dois poemas.

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