quinta-feira, fevereiro 07, 2019


Existe um elogio difundido da criatividade. Na realidade, parece-me que esse aparente e difuso interesse pela poesia se expressa, pelo contrário, em uma tangível indiferença. Se formos ver as tiragens e vendas dos livros de poesia, ficaremos bastante desconsolados. É muito difícil vender livros de poesia, inclusive dos autores mais famosos. De vez em quando, alguma iniciativa editorial consegue movimentar o mercado; mas se tem a impressão de que, por debaixo desses fenômenos momentâneos, que induzem a um certo otimismo, na verdade é bastante escasso o grau de interesse real, de curiosidade e de cultura específica (porque, se a poesia não é acessível a todos, como o próprio Sanguineti diz, falando de sua própria escrita, evidentemente requer cultura, não pede apenas uma genérica declaração do valor da poesia). Creio que o amor pela poesia em geral, ou a estima, ou a valorização pública, e inclusive teórica e filosófica, da poesia, na verdade é muitas vezes um fato mais negativo que positivo. Trata-se, por outro lado, na minha opinião, de amar, de ler e entender de verdade os poetas, cada poeta singular. Não existe a poesia, existem os poetas; poetas que devem ser lidos e entendidos. Muitas vezes, ao contrário, a ideia de poesia, inclusive nos próprios poetas, cria uma espécie de boa vontade, ou ênfase, ou enfatuação retórica, quase mitomaníaca, que não faz bem à poesia. A poesia, diferentemente de muitas outras atividades culturais, é algo que requer uma grande e particular atenção ao concreto, ao singular, não às grandes categorias. Afogar os poetas na categoria da poesia, amar todos os poetas enquanto tais, não distinguir, por exemplo, os maus poetas (que se multiplicam, por razões culturais) dos verdadeiros poetas, é algo profundamente negativo, no meu entender.

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