quinta-feira, fevereiro 07, 2019


"...porque os novos poetas não têm, digamos, esse estigma de destino, nem essa inteligência, essa grande inteligência do mundo e da literatura dos poetas anteriores, que eram muitas vezes extraordinários críticos. Não é uma casualidade que, nos poetas mais jovens, não haja nenhum crítico; a crítica é praticada um pouco de maneira oportunista, fazem-se algumas resenhas, trocam-se favores, mas não se encontram personalidades críticas. Pelo contrário, antes o poeta era frequentemente também um crítico de grande valor: Pasolini é um dos maiores críticos da segunda metade do século, Zanzotto é um crítico extraordinario, Fortini… Mas também os escritos críticos de poetas como Bertolucci, Caproni… Montale é um dos maiores críticos imagináveis. O próprio Sanguineti é um crítico muito notável. Depois, isso não existe mais: a conexão moderna de crítica e poesía, pela qual a poesia nasce de uma profunda inteligência. Uma ideia destrutiva, tremenda, que se difundiu depois de 1968, foi que os poetas podiam não ser muito inteligentes. Isso é um grande engodo. Os poetas podem não parecer demasiado inteligentes, mas sempre são, e muito. Inclusive se não escrevem uma linha de crítica ou de teoria. Então, isso empobreceu um pouco, e reduziu a cultura poética a uma sorte de subcultura, muito frágil. Como dizia Oscar Wilde, o poeta é um crítico, os gregos eram grandes críticos, o artista é, antes de qualquer coisa, um crítico, não no sentido de que escreve necessariamente crítica, mas no sentido de que, para produzir arte, é necessário ter um fortíssimo sentido crítico, de autocrítica, de o que não se deve fazer, onde você tem que se deter. Infelizmente, essa cultura literária debilitou-se muitíssimo, o declínio da cultura literária propiciou uma criatividade poética enorme, e hoje temos uma quantidade de poetas impossível de organizar criticamente. Do ponto de vista prático, acontece que as histórias literárias, a opinião pública, os jornalistas, os autores, querem saber quais são os poetas mais importantes de um período: então como se faz? A seleção não se produziu através dos filtros da crítica, mas através das decisões editoriais, puras e simples decisões editoriais, muitas vezes casuais. Existem cinco ou seis poetas que são continuamente nomeados, e são os mais conhecidos na Itália, mas existem no país pelo menos outros cinquenta poetas, muito menos conhecidos, que valem tanto quanto aqueles, até mais. É um puro acaso editorial que não tenham sabido se fazer escutar e publicar. Trata-se de estratégias editoriais, que às vezes se saem bem, e às vezes não."

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