segunda-feira, fevereiro 16, 2015

Fissão


São também meus os caminhos desgastados por pequenos milagres e moedas perdidas.
Apanho-os do chão, ponho uma peruca dourada e procuro esses navios de pessoas
naquelas mesas cambaleantes, de sorrisos embarcadiços e almas como cargueiros afundados.
Procuro alguém que me fale do vapor e dos céus parados no tempo,
de alguém que se mova como o Clermont na sua primeira viagem
(A visiting Frenchman by the name of Michaux was one of only
two new passengers who mustered the courage to book passage
on the return trip to New York City. Fear of the boiler exploding
scared off any other would-be voyagers).
Mas poucos são aqueles que abrem o vento em dois para a sua passagem.
Quando os vejo é como se visse o fio da apostasia a cortar-se até às profundezas da fé,
com os olhos desfeitos pela luz das alforrecas, escuros como corais onde outro tipo de vidas, bem diferentes, estão para lá desta tão nossa noção de sangue.

- Ana Salomé
(retirado daqui)

Sem comentários: