
Este artigo que cito apareceu na edição nº 40 do jornal de distribuição gratuita MU: Mundo Universitário
Na semana passada foram dados ao conhecimento público os resultados de um inquérito à volta da praxe académica, objecto de estudo realizado pelo sociólogo Elísio Estanque e pelo historiador Rui Bebiano. Acredite-se ou não – e meus amigos, hoje em dia eu já acredito em tudo -, um dos dados retirados do inquérito diz que 32,3% dos alunos da Universidade de Coimbra concorda com a prática de actos de “violência física ou simbólica” no âmbito da praxe. Uma pessoa nem sabe bem o que pensar quando lê este tipo de conclusões verdadeiramente medievais. O melhor mesmo é acreditar que os autores do estudo andaram especificamente atrás de trolls para responder ao questionário. É a única maneira que encontro para puder conviver que esta realidade mentecapta.
Aqui nem se trata de discutir a utilidade/importância de uma instituição polémica como a praxe nas universidades - que para mim são tão necessárias como os congressos do CDS/PP. Não é isso que está em causa. O que este número nos mostra é que há 32,3% de energúmenos disfarçados de estudantes que não se importam que se faça das universidades portuguesas verdadeiras versões académicas da prisão de Abu Ghraib. Mais interessante (tudo isto é triste, mas não deixa de ser interessante), é o facto de cerca de 18,4% dos inquiridos admite não ler livros. A partir daqui, parte do número fica explicada. É sempre complicado para calhaus desenvolverem noções como as de direitos humanos, integridade física ou, por exemplo, dignidade e decência humana. Mesmo com parte do fenómeno explicado, tudo isto não deixa de ser desconcertante. Muito desconcertante. Pena estes inquéritos serem anónimos. Caso contrário era pegar nos meninos e meninas que fazem parte do ignóbil 32,3% e levá-los a experimentar uma prisão de alta segurança ou alguma coisa parecida. Intimidades com presidiários não haveriam de faltar e depois era vê-los a chorar e pedir desculpa cada vez que deixassem cair o sabonete no chão durante o duche. Amor com amor se paga.
- Gustavo, Vida Malvada
Será que conseguem adivinhar de que forma vou cair para cima deste gajo?
Bem antes de mais não posso esconder que estou sobre uma grave reserva ao escrever qualquer das linhas que se seguem porque na verdade acho este artigo uma coisa tão vulgar e ranhosa que não sei como posso pegar-lhe de uma forma séria para o desmontar... Ainda assim vou tentar.
Por favor perdoem-me só este à parte mas isto tem mesmo que sair - é impressão minha ou este Gustavo é picolho?
Bem vou ver por onde lhe pego primeiro...
Parece que aqui o Gustavo não está de acordo com a praxe académica e acredita que se trata de uma prática medieval... Estranhamente o que ele diz é que a conclusão do estudo é que é medieval - "Uma pessoa nem sabe bem o que pensar quando lê este tipo de conclusões verdadeiramente medievais." - mas agente isto até lhe perdoa, é um erro de escrita e afinal isso pouco importa quando se percebe o que se está a tentar dizer...
Gostei quando ele nos chamou amigos logo no início - este gajo é um amiguinho, é contra os maus tratos e os abusos, defende a nossa integridade física... É um bom samaritano e pura e simplesmente vê com maus olhos quando umas pessoas usam da violência e a justificam como um comportamento tradicional e que apoia a integração no espírito académico...
Chama aos trinta e tal por cento trolls e diz que só dessa forma pode conviver com "esta realidade mentecapta"...
A situação que ele descreve é dele e foi o sentimento que o estudo lhe provocou... Eu não vou enunciar uma por uma as idiotices que ele vai dizendo simplesmente porque a esta hora já é tarde e eu já li o artigo hoje de manhã e agora tou com menos paciência para os merdinhas como o Gustavo... Gostava até de pensar que bastaria deixar aqui o artigo dele e já causaria o efeito que pretendo mas como estamos numa de personalizar vou deixar aqui uma ou outra ideia...
Olha Gustavo meninos com direcções opinativas como a tua tornaram o movimento académico naquilo que é hoje na maioria das academias do país - um movimento sem força de afirmação, com um espírito fraco e frágil e esse abandono deixou-nos as memórias de um fantasma que alguns ainda se lembram por ouvir falar dos dias em que ele viveu - dias em que não era cada um por si com os seus direitos pessoais super protegidos e pouco ou nenhum contacto com realidades de intensa vivência em grupo, onde as pessoas procuravam ser prestáveis e se identificavam no pluralismo assumindo o seu lugar nessa forma de colectivismo ao mesmo tempo que reconheciam uma orientação que ía para além dos interesses pessoais mas que defendia uma luta pelo bem comum... Assim os estudantes podiam sentir alguma pertença à participação séria e de destaque que o corpo estudantil conquistava no seio da sociedade... Os estudantes tinham voz mas não era uma voz egoísta era sim a manifestação de uma organização de valores colectivos... O estudante queria participar activamente e ser melhor para dar mais de si e contribuir... Dias em que não andava cada um com as suas opções de sujeito impondo-as a toda à gente com base na fraqueza da situação de quem está em minoria e quer o respeito que parte da simples condição de existência de se ser um estudante a título individualista...
Mas eu ultrapassei aqui a questão das praxes e esta imagem forte e provavelmente muito questionável (para alguns) que apresentei serve apenas para dizer que se aspiramos a um aparelho de afirmação estudantil tem que haver organização e a organização pressupõe hierarquia e entre jovens essa hierarquia estabelece-se sim por via de práticas arrojadas em que se deixam de lado os "pequenos" direitos na medida em que são singulares e esta tolerância torna-se proveitosa para os que já se afirmaram e estão integrados estabelecerem um distanciamento que é positivo se se pensar em termos da integração que pressupõe que para o caloiro se enturmar terá que fazer por merecer... Mas tu e muitos defendem que a integração é um direito garantido à partida e por isso é que nos nossos dias as pessoas enquanto sujeitos civícos pouco ou nada participam nas questões que não lhes digam respeito apenas a elas enquanto destinatários singulares... Mas e as questões que aproveitam a todos?... O um por todos, todos por um é hoje apenas uma linha de um romance famoso que embora inspire a cultura dos valores a nós enquanto seres sociais não nos diz nada.
E já agora deixa-me dizer-te que as práticas violentas a título de praxe acontecem hoje num número muito reduzido e apenas são cometidas por pessoas que estão intencionalmente a abusar da tolerância deste fenómeno académico que ainda sobrevive apesar dos esforços de tantos palermas como tu.
Mesmo assim uma falha num sistema de organização não deve levar o sistema ao chão. Como em todos os sistemas há sempre pessoas que enquanto agentes abusam da fragilidade de outras pessoas mas cabe ao próprio corpo estudantil a prevenção deste tipo de abusos.
2 comentários:
Ficou mal na minha opinião também o MU por ter publicado este artigozeco de opinião... Deve ser pela força que lhe confere o tal estudo... A verdade é que esses estudos são práticamente ficções dado que a amostra é pouco válida a título de representação geral...
O Gustavo até podia pegar num bloco de notas e passar uma tarde a fazer perguntas numa faculdade, chegava a casa metia os resultados num programa de cálculo e tinha as estatísticas... Nada disto é sério mas o que é que se há-de dizer? É preciso é mandá-los abaixo...
ATENÇÃO----------------
PRAXE VIOLENTA. Muitos blogues fizeram eco de uma notícia do JN onde se afirma que «32,3% dos alunos da Universidade de Coimbra (UC) concorda com a prática de actos de violência física ou simbólica». Seriam essas as conclusões de um estudo coordenado pelo Elísio Estanque e pelo Rui Bebiano no âmbito deste projecto de investigação. Mas a informação está errada, como alerta o Rui:
«Não posso neste momento escrever uma coisa mais substancial. Conto fazê-lo durante os próximos dias. Devo dizer, porém, que a notícia do JN não se refere a um estudo, mas sim a alguns dados muito parciais que, a título de exemplo, foram facultados à imprensa. As conclusões que se avançaram devem, além disso, ser comparadas com outras, que, de alguma maneira, relativizam o impacte de cada pergunta. A impressão geral que temos do universos estudantil observado não é assim tão negativa quanto a notícia - e principalmente as suas leituras - tem levado a pensar.
Daremos mais alguns dados na sessão de encerramento do referido colóquio (hoje, 5a., à tarde). Mas as verdadeiras conclusões, que envolvem informação muito mais complexa, só deverão estar disponíveis no final deste verão que se aproxima. Lamento desiludir quem, mesmo que inadvertidamente, vai atrás de um título sensacionalista. Não posso criticar essas pessoas, porém. Eu próprio poderia ter feito a mesma coisa.
Rui Bebiano (um dos responsáveis pelo referido inquérito em curso).»
http://kontratempos.blogspot.com/2006/05/praxe-violenta.html
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