Acabei ontem estas mil páginas (1ª edição de 1989). Mesmo que já soubesse alguma coisa sobre a maior das carnificinas modernas e haja observações importantes a fazer ao posicionamento do autor, tratou-se de uma experiência de leitura particularmente difícil do ponto de vista moral.
Já se escreveu que é preciso ter estômago de ferro para se avançar na leitura deste livro e eu concordo - sobretudo quando o historiador começa a descrever a crueldade que a guerra exponenciou. Não só, mas também por isso, este é um livro necessário. Essa crueldade não pode ser apagada nem esquecida. Mas, para além da loucura e da brutalidade humanas, descritas, a partir de certo momento, quase página sim, página não, fica-me também a ideia de que, afinal, o crime compensou para muitos dos perpetradores.
Neste sentido, o último capítulo é chocantemente significativo porque confirma aquilo que eu já sabia mas que, lendo, custa mais a aceitar: que, à excepção de algumas figuras proeminentes - Goering, Eichmann... - e algumas outras mais obscuras, as condenações dos criminosos de guerra "referem-se muitas vezes apenas à pequena parte de crimes que pode ser ainda provada, muitos anos depois dos acontecimentos em causa" (p. 956). Não bastando tal situação, verifica-se ainda que muitos dos que chegaram a ser julgados e condenados puderam regressar, com mais ou menos, tranquilidade à sua vida numa Europa reconstruída sobre os cadáveres de milhões cujo sangue, entretanto, foi lavado das suas mãos.
Registo apenas alguns dos casos citados pelo historiador: o general SS Wolff, julgado no dia 30 de Setembro de 1964 e condenado a quinze anos de prisão que saiu em liberdade ao fim de sete; o tenente SS Arnold Strippel, que "passara seis anos na prisão condenado por cumplicidade em assassínios de prisioneiros ocorridos em Buchenwald e Neuengamme" e que receberia, depois, "uma compensação de 121 000 marcos alemães pelo tempo que passou na prisão"; o general SS Kuit Meyer que "viu a sua pena de prisão perpétua reduzida pelo governo canadiano para catorze anos e depois novamente encurtada por bom comportamento"; Helmut Knochem, da Gestapo de Paris, condenado à morte em 1954 mas libertado em 1963; Wilhelm Mohnke, "responsável pelo massacre de prisioneiros de guerra britânicos em Wormhout" que vivia descansadamente "na qualidade de homem de negócios reformado, nas proximidades de Hamburgo"...
Sim, é verdade que também houve justiça rigorosa, também houve castigo para alguns dos crimes. Mas.
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