O que é que o som de pássaros tem a ver
com estes lugares de culto, e o hábito
de substituir a perversidade natural
pela ambição de vulgares imitadores
estes que usam tinta e fixam disparates,
pintores, filósofos, fotógrafos, estudantes
de moda, os imbecis do costume, todos
os que perderam o sexo e a fome, e costuram
vezes sem conta as suas fantasias fingindo
uma intensidade criminosa sem levarem
nada até ao fim? Só que depois é o monstro
quem ouve primeiro esses sons, a luta
pela vida das coisas que não podem estar
no mundo. Já tirámos tudo o que foi possível
de sacos de papel, o horror das migalhas
e a disputa entre sombras, mas se queremos
que vejam algo mais, não seria necessário
torturar cada um deles? Repara como
mastigam cada nome e lhe esquecem o rosto,
os detalhes assombrosos, os traços frios,
as hastes, o nariz quebrado, o modo de
pedir com os olhos. Passam-lhe batom
e o sorriso ainda fica um caos, porque é
ainda pior do que se diz, este jogo de azar,
a arma que vai passando de mão em mão,
e mais tarde, ah, mais tarde esperam eles,
cheirando o rastro que deixaste, fazendo
aquelas caras, tirando notas, julgando
que se acabou, e que estão safos, só que
depois ainda é a vez dos nossos ecos.