A gata apanha peixe quando pode.
Peixe roubado, porque é uma ladra.
Se não, não seria gata, nem tão hábil.
A gata dorme ao sol, dorme à sombra,
ou sobre o grande louceiro da sala.
A gata é um sistema de defesa,
olhos que vêem crescer a erva
quando não há erva nenhuma
nem nada que cresça.
A gata abana o rabo,
radar de veludo,
controlando a noite que deixa atrás de si.
Dormiu dez sóis sucessivos
e agora estrangula urracas em copas de árvores,
tão ágil que amedronta,
e emana no escuro a sua luz roubada.
Amo a minha gata, que é mimada,
vigio-lhe as garras criminosas
e ela esconde as unhas,
inocente,
como uma imperatriz que guarda a sua adaga.
A minha gata tem muita biografia,
os animais nunca se aborrecem,
mas também não sonha fantasias,
embora beba, pouco a pouco, o cloro verde
da imensa piscina que a olha,
e depois, junto a mim, vê televisão,
e volta a dormir mais vinte horas.
- Francisco Umbral, 'Obra Poética (1981-2001)',
ed. Austral, tradução de Carlos Vaz Marques
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