Podíamos dizer nada, assobiar como manda a etiqueta lusa (nem é para o lado, é para dentro). Afinal, que adianta quando tudo se está nas tintas, e os números só se fazem zumbindo numa de mosca, vindo dizer que é tudo uma merda, para depois comer do mesmo jeito? Podíamos rosnar um pouquinho, à semelhança do editor mais ilhado na corrente (Carlos Alberto Machado), mas o Hugo, o Hugo-pá! merece-nos mais do que o ficarmo-nos com os outros, de galochas, a chapinhar no maior desdém. Ele tem, afinal, já um lugar cativo ao lado de mários-silvas e outros obreiros do actual descaso literário. É o nosso homem do fiambre no que toca à crítica, e o processo é o que se sabe: trazem-lhe umas carnes de segunda, o rebotalho, e lá vai ele encher o tacho, cozer aquilo tudo, processar a coisa, disfarçando as cartilagens, fazer farinha de pedacinhos de ossos, das róseas unhinhas e tal, fica aquele bocado de perna limpo das varizes, aquele balão cor-de-rosa, para ser fatiado fininho e servido às criancinhas. E se para um intelecto insosso vai tudo dar no mesmo, que diferença lhe faz se alguém dissesse que nada pode ser mais complexo que um poema, organismo superlativo absoluto vivo, apenas com palavras, apenas com palavras despropositadas, movimentos milagrosos de míseras vogais e consoantes...? Ele já tem lá a agenda dele, e na capa lê-se: "Pau Mandado". Na folha de rosto, para não esquecer-se, tem os dez mandamentos de todo o oficial da treta: "Não deixarás de lamber o cu do autor", assim começam. Pois, aqui está, este santo a cumprir o primeiro mandamento como se não houvesse amanhã. E, assim, não há mesmo. O dia nasce (por mero artifício verbal) e o que se vê são uns cabrestos em procissão, atrás de um mesmo badalo, que vai dizendo que a morte escreve demasiado bem. Agora vai ser isto por quanto mais tempo? Esta chachada da morte? E a gente também se lembra de termos sido miúdos, da navalhada no nosso narcisimo que foi descobrir que um dia íamos desta provavelmente para porra nenhuma, e se essa noite se dormiu mal lá em casa, ficar a vida toda nesse amuo com a vida, insistir que já só o que nos faz viver é a morte... que austera, apagada e vil tristeza. Já nem dá para um leitor se queixar desta puta de vida subdesenvolvida. Ao menos fosse puta, antes ser filho de uma grandessíssima puta que ter para madrasta esta morte. Esta tem de ser a mais cretina embirração que já se viu. O que vai dizer-se de todo um movimento que se constituiu em filinha, um sacristão atrás do outro, atrás da arte poética mais enconada que já se viu?
sexta-feira, agosto 10, 2018
Poesia madrasta
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