Flechas envenenadas é o que ficou
de um sonho mal digerido
um rato ainda vi sumir-se
e tremendo da incerteza e do que já não podia
pus os olhos no espelho
quis como nunca um rosto que se visse
do outro lado da noite,
granítico, de pedra acordada
traços fundos seguindo o que se diz
de olhos fechados.
O tempo perde, o vento passa os dedos magros
ao longo dos braços,
a roupa que despiste eu ouço-a; eras miúda
e eu mal via no escuro
foi uma idade perversa que hoje eu aprecio
tomei-a dos teus lábios e ele traduzia
nuns gorjeios, bebia connosco
recebia as migalhas, pedacinhos de nêspera
até a tarde ficar cheia, virando
agora o vento baralhou-me o pássaro
desmemoriado, zumbe aflito
faz-se de mosca para não ficar de luto.
Nas costas do mundo, sem fim nem começo
uma frase devora-nos
o quarto de dormir inclinou-o um ritmo
passos que dou por outros
segredam, balouçam as lâmpadas
e não tenho poderes senão essas coisas que leio
de que nasço, voltando-me ao contrário
a sombra arrancada entre o texto e a terra
sou o que quer morrer disto
de um estilo bêbado,
menos do corte que da sensação da lâmina
e o sentido a desfazer-se da língua
uma possibilidade de música dissolvendo-se
num silêncio frio até para os deuses
de tudo, como um soro, enchi a garrafa
e bebo um gole à vez
o sabor a grito que ficou naquela água.
Depois de discussões o poço foi tapado
ficaste tu, eu e as explicações do pássaro
caídos lá em baixo.
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