segunda-feira, março 19, 2018

Galo


Este galo que vem de tão longe no seu canto,
iluminado pelo primeiro dos raios do sol;
este rei que me aparece à janela com a sua coroa viva, odiosamente,
não pergunta nem responde, grita na Sala do Banquete
como se os seus convidados não existissem, as gárgulas
e estivesse mais só que o seu grito.

Grita de pedra, de antiguidade, de nada,
luta contra o meu sono mas ignora que luta;
as suas esposas não contam para ele nem o milho que pela tarde o fará beijar o pó.
Limita-se a uivar como um herege na fogueira das suas penas.
E é o corno gigante
que sopra as trevas ao cair no inferno.

- Enrique Lihn

Sem comentários: