terça-feira, fevereiro 06, 2018

Ocupar espaço


* O que eu chamo de “ocupar espaço” está, de certa maneira, naquele “Teorema” de Pasolini. Também não seria aquilo, se a gente quiser assim, uma transa de vampiro, um filme de terror? Melhor: uma história de terror? 
* Ocupar espaço, num limite de “tradução”, quer dizer tomar o lugar. Não tem nada a ver com subterrânea (num sentido literal), e está mesmo pela superfície, de noite e com muito veneno. Com sol e com chuva. Dentro de casa, na rua. 
* Ocupar espaço, criar situações. Ocupa-se um espaço vago como também se ocupa um lugar ocupado: everywhere. E aguentar as pontas, segurar, manter. Ou, como em “Teorema”, aplicar e sair do filme. Tiro um sarro: vampiro. O nome do inimigo é medo. Meu nome ninguém conhece. Moro do lado de dentro e nasci na Chapada do Corisco – carrego isso. Plano geral na parede: numa encruzilhada vista do alto as pessoas se movem e correm atrás de algo. Não sei se é uma pelada, não sei se é outra coisa. Corta e lemos a palavra: DESÇA. Fim do cinema, início do cinema. O espaço desocupado, ocupação do espaço. Filmes. 
* Sem começo e sem fim, mas mesmo assim: pelas brechas, pelas rachas. 
* Ocupar espaço: espantar a caretice: tomar o lugar: manter o arco: os pés no chão: um dia depois do outro. 
  
- Torquato Neto
(Terça-feira, 30 de novembro de 1971)

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