terça-feira, janeiro 02, 2018


O sangue é o dos outros, os músculos, a noite deles, vícios com batida, Louis Armstrong numa aparelhagem algures no prédio, nas escadas... Desculpa. Estás acordada? Mudou o ano, eu vi um filme e não pensei em ti porque não vinha a propósito, alguém podia ter-me lembrado, havia ali tantas mulheres, e bebiam, fotografavam-se, era uns poucos anos antes de eu ter nascido, tu terias uns meses, talvez já gatinhasses, miúdas gritam lá fora, é a amazónia dos tristes uma noite como esta, a alegria aleija uns passos ao lado, e a felicidade é tão pretensiosa, talvez haja mais gente a calcular pelos dedos se tem o que chega para durar até ao fim da década, isto está tão embaraçoso, jantámos num chinês, éramos tal qual um grupo de estranhos, a falar a mesma língua que eles, aqui e ali calados, não foi muito mau, há muito tempo que não é, agora é simplesmente tolerável, tudo, um cinco de zero a dez, do inferno ao céu, um cinco, mas não consigo pensar em muito mais do que pedir a conta, para todos, vamos ver um filme, mulheres no século XX, uma certa quantidade de gente à procura de gente à procura de uma certa quantidade, sem sustos desta vez, música melhor em vez de respostas, já não há paciência para que nos respondam, parece falta de maneiras, ficamos sentados ali ao fundo a ver, bom ano, sim, não se incomodem por nossa causa, estamos só a pagar, sim, temos de ir deitar os miúdos, graças a deus, pelos miúdos, que maravilhosa desculpa para não ficarmos até ao fim.

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