sexta-feira, janeiro 05, 2018


Devia ter lá a placa com um aviso, não o cuidado com o cão que, por falta de dentes, se perdeu entre as espécies, acabou sem função, estes já não guardam nem ladram, e as caravanas até sentem um arrepio, o deserto é um sem fim de coleiras largadas na areia, nada perseguindo nada, miragens coçando o braço como agarrados debaixo de estrelas abatidas, mas ainda assim, algum cuidado é preciso, hoje com esses que fizeram uma descoberta há décadas e ficaram por isso mesmo, como se fulminados, encadeados nela, tomando os pés por raízes, em vez de um bosque com clareiras, um deserto com uns tufos de ervas, uns pêlos aqui e além, essa gente que faz uma descoberta a cada 30, 40 anos, e as patrulham com carabinas, fazem uma fé de volta de um deslumbramento velho, às vezes herdado dos pais, dos avós, e chamam tradição a vidas plantadas à entrada do mausoléu, onde esperam acabar enterrados, se um grão de lucidez se lhes mete no pobre mecanismo, o raciocínio empena, em vez de tomarem umas conchas de mão de um poço e seguirem, ornam-se relógios parados ruminando uma hora perdida, lembram runas, vestígios, e em vez de mil instrumentos para as infinitas oportunidades de medição, ficam-se pelo metro, o centímetro, as milimerdinhas, e tudo o resto é extravagância, cai fora da realidade o que não regista no aparelho adoptado aquando lá da revolução obsoleta deles, o mote ficou dado, agora resta a glosa, a redundância exacerbada, a militância amante do preso pelas grades.

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