domingo, dezembro 05, 2010

Casa na Falésia

Dentro, o cheiro intenso de um pequeno candeeiro a óleo. Lá fora,
O incerto sinal luminoso de desperdícios no mar.
Dentro, o soprar do vento. Lá fora, o vento.
Dentro, o coração trancado e a chave perdida.

Lá fora, o frio e o vazio, a sirene. Dentro,
A dor do homem forte que descobre frio o seu sangue rubro,
Enquanto cresce o ruído do relógio cego, mais rápido. Lá fora,
A muda lua, as marés loquazes que ela governa.

Dentro, a antiquíssima bênção fundida com a maldição. Lá fora,
A cúpula vazia do céu, as funduras do vazio.
Dentro, um homem decidido fala sozinho
Contra si, um sono estilhaçado.

- Louis MacNeice
(tradução de Hugo Pinto Santos)

1 comentário:

Anónimo disse...

Belíssimo poema feito de dois espaços de um mesmo tempo, em contraste.

Lá fora, a chuva move-se no encalço das frestas… pelas passagens entre pedras brancas, calçadas gastas, passos que nela passam rápidos, demorados, arrastados ou absortos… Incertos fragmentos do mundo.

Obrigada pela partilha.