Temos de rezar, sim, não a deuses
mas uns aos outros, até que nos consuma
a chama crua que coze cá dentro
e logo que temperaturas febres se alcança
só pela troca de algo tão breve
como um olhar,
Desembarcamos, vimos,
rindo brilhando
com movimentos bruscos, luzes
desavindas, cheiros, numes,
desse radiante cansaço que se parece
com a embriaguez
o corpo é uma memória comum, mapa
onde abrimos a noite, as senhas
os idiomas corroídos
de tanto nos falarmos a sós
com o escuro desatado, essa canção
que nos deixou água nos ouvidos,
e ainda o embalo duro que toma conta
dos corredores, a impressão
dos que tremem diante do impossível
Viemos pela vida, mas não da que se vê
por aí, tão vista, já gasta
antes a outra, forte e de antiga data,
mesmo se estreita cheia
de vincos, remendos E que incerto
se mostra esse rosto
um rosto tão escuro que não há luz
para abri-lo de uma vez
mesmo para nós, é um susto
a cada expressão, e ao rir-se
mal lhe sobrevivemos
faz meses que cobrimos os espelhos
e ainda falta tudo o que nos vão obrigar
a fazer. Eu, eu, onde me levou isso
tão riscados os papéis, e que promessas
nos fizemos
: um dia destes torno-me discreto
seis meses seis anos mais uns seis
segundos da minha carne à tua
acabo eu mesmo com a minha raça
nem deixo que se oiça outro passo
neste continente absurdo
mas não antes que uma coisa
fique clara, um nó por cima de outro
como a vida exige ser cobrada à morte
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