Sem fortuna de espécie alguma, com o nome
por fazer enquanto outro feito já contra ti
surge amiúde na boca dos demais
como pérola negra desse baixo tom de intriga
e da amargura de tanto morderem no vazio
mas se, da sua ameaça, resta um gosto acre,
quanto à força tomam-na por devaneio
pois tudo o que vive lhes causa tonturas
tudo o que importune a ânsia de juros
que os leva a rebaixar a beleza, irrita-os,
como cada pedra refazendo o seu voo
ao reanimar os estilhaços e a corrente
entre as ilhas obsedantes, a favor
da irrupção do quotidiano no mundo divino,
seus lugares e vozes, tudo isso os assusta.
Num convívio do real com o irreal,
a cada manhã o poeta desperta diante
da sua insuportável metamorfose,
tão doce para nós, vem e ofende o mundo
devasta-lhe o pudor, as convenções, mas
e estes comedores de lótus, que fazem?
Apenas se repetem, só criam espuma
em vez de ondas, e em vez de igualarem
aquele transtorno exaltante, vulgarizam-na
para que se pareça um pouco com eles.
Nunca este ou aquele homem puderam
apropriar-se dela, dessa luta para tirar
a forma do caos, imprimindo de novo
o seu escândalo. Mas que fazem os imbecis?
Falam tanto dela, querendo apenas dizer
uma e outra vez: eles mesmos, a posse,
esse vazio dos que respondem sempre
à chamada, sem nada de perturbador que dizer.
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