segunda-feira, abril 01, 2024


Estes brincam ao desespero
e estendem as mãos como se a treva 
esperasse deles algum alimento, talvez
por não restarem já poderes entre o sentido
e no fogo das imagens, pois
perdeu-se até a margem e as torres
de anto ou os túmulos de outrora
restam caminhos de variar o juízo
ainda que eles prefiram o escritório
e os detalhes, devaneios de entomólogo, 
a acidez do idioma malgasto dando
tanto trabalho, a mim e como eu lhe vinha
dar esses restos frios, ele ignorava,
impedia-me de cumular frases de ninharias,
passavam dias, e só tinha para me entreter
a triste aventura da sede,
a ponto de me perguntar se outras línguas 
impediriam o mundo de nos ser conhecido,
os nomes as vozes dando
um estranho contorno às coisas
como então a vida se torna ofensiva
e as imagens se decompõem no olhar
pois peçam tréguas a outro, desfaleçam
de joelhos abrindo na palma da mão
um núcleo radiante, um grão ou uma pedra
onde assentar a expansão íntima
rumorosa do universo
sair desse passo que não acabam de dar,
sair do lugar estéril da memória,
opor a fantasia com toda a sua agressividade
a este mundo, e reaver enfim 
o bosque invertido onde as árvores digerem
aqueles que delas pendem,
enforcados ouvindo a canção carnívora
que ama e se alimenta dos corpos, afinal
foi de ouvido que foram feitas
as florestas, frutos a assobiarem
à carne, os órgãos expostos e o sopro
selvagem, balançando-se dos tantos lados
de uma forma contida, os pássaros
destacam-se da partitura,
as flores são legendas mínimas esquivas
segredos exigindo proximidade
para logo te arrancarem os olhos


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