terça-feira, junho 06, 2023


As ervas altas ao redor ajudam a esconder
os lugares frios que lembramos desses actos 
furtivos e do amor espantado
dos grandes planos que apontavam sempre
a regiões longínquas e enfim desesperadas,
também esqueci como Picabia
a minha amante de vime nalgum quarto
casada e a cantarolar sobre o meu peito
e se hoje não tenho um chavo nem posso
defender-me atrás de uma chávena
ou de vinhos inferiores
só alguma fotografia ainda provoca 
envenenamentos calmos misturando
os acontecimentos da minha vida.
Não sei ao certo onde pus aquele país
miserável e encantador onde tudo era
próximo suave batendo-nos à porta
divertíamo-nos com o seu ar cansado
o que lhe restava de ternura,
as lojas eternamente fora de moda,
as relações alcoólicas e a alegria inexplicável
e não seria só isto, mas hoje é tão difícil pagar
a renda, e se viramos as costas e cambaleamos
sem uma idade certa e o sexo não nos abre
já nenhuma cama por vezes há ainda
alguma canção que nos atinge no focinho
sente-se o pôr do sol nos ossos 
a luz faz de nós animais contemplativos
mastigadores de flores sorrindo
do tanto que cheiram a realidade
mais do que essa intriga medíocre
ou que o calão que vos enche os versos
Não guardo nada além desta mancha obstinada
que aflora vista o que vestir
e se antes a tapava hoje deixo-a fazer
o que quer e os que têm imaginação
fixam nela o olhar,
lêem em direcção ao desconhecido
abrindo as gavetas do acaso,
assobiando enquanto a vela adormece
e ressona

Somos prisioneiros idênticos
satisfeitos entre sonhos nocturnos
precisos e práticos, a cumprir turnos
nalguma bomba de gasolina
com o gosto de vos enviar de volta à estrada
e despedirmo-nos do destino e da aventura
com o seu odor vago a gente mundana


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