terça-feira, junho 08, 2021


Que não encontrem estas mãos.
Houve tanto trabalho.
Além dos ossos, que finquei fundo nalgum lugar,
fiz-te a boca também, enterrei nela
tanto do que admirei, usei dos saberes como
das formas, perfis que as estrelas cortam à faca
cacos de louça da lua, todos reunidos
onde os nomes se despediram da carne
e o fogo vivo vindo do poente reanimou
o que foi dado como perdido. O que te disse eu:
Nalguns dias somos mais fortes
do que noutros, sente-se no ar
as palavras que ainda não assentaram,
e um cheiro frio nos dedos, do futuro talvez
sombra que não deixa levantar o rosto.

De noite algum sentido fizemos --
bebíamos sílabas que tremiam espalhadas
pela superfície das coisas no quarto
gotas de álcool, a visão no seu coágulo duro
antes e depois, desfeito. E a mancha
onda que andando ameace com a sua força
e dance como rosa afiando um punhal.
Com um gesto que da luz se despe,
a escrita lança uma sombra na direcção errada, 
abre o tempo a essa leitura silenciosa.
Dos dois lados, ouvimo-nos
entre os órgãos mínimos sobre a terra,
damos corda a um mesmo pássaro.

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