domingo, abril 18, 2021


Erguido contra tudo e o conjunto,
sacode e assobia ao longe, vem por aí
de sangue na boca, limpa-se à manga e cospe
ao passar por vós. O poema
deve ser intratável, um verdadeiro canalha
e ainda assim fazer que o ouçam.
Faz um frio danado, para começar,
racha-te os lábios do tanto que tem a dizer,
e com grande balanço, dá por nós
esse passo tão vivo em tão frágil mundo.
E não se sabe, ninguém imagina
onde vai. Aqueles que o perseguem
nunca o apanharão. 
Por este copo que acabo de beber,
parece que os ouço, caídos,
os que gritam para o poço da página
lamúrias, cacos de imagens,
distâncias de faz de conta,
o passeio que uma lua amnésica dá
zumbindo. Essas noites de um só trago, 
se as escrever quanto tempo ainda teremos
para divagar sobre o desejo?
Agora que ela dorme, que vontade
de subir de novo à cama.
Mas vai já tão longe, flutuando à deriva.
Se desembarcas, a tempestade quebra-te,
todo o tipo de ruídos se aproveitam de ti.
Atiro as flores ao chão, elas morrem
imitando os peixes, fico com a água do jarro,
um mar alto a que nada resiste.
Olho em vão, dou-me como afogado.
Adeus e tudo isso entre rajadas, vagalhões,
até que a oiço no fundo, recitar o poema,
isto circula e entra na ordem, os doze nós
cantando ao longo da corda,
agarro-me, e quando lhe vejo os olhos
grandes, sábios, já me lembro como se faz.

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