sábado, janeiro 16, 2021


Aprende-se contra o que somos
uma língua para mais dentes do que cabem
na boca humana, com mais alcance 
que o das vozes e são precisas gerações,
o hálito que se regenera sem sílabas e sem sopro,
uma fúria que se segue de corda nos dedos
sem desistir da força de um som e
como cheio de vida te puxa
inclina a atenção toda sobre as águas, 
o mesmo para que os astros se criem
depois de esculpidos sopradas as aparas
se elevem entregues a uma música
um ritmo fundo mais firme que os ossos
esse que faz rodar a flor da aorta
sangue ressoando de uma bebedeira antiga
apanhando lumes, visões detidas,
a minha vela lendo no mapa que se move
onde foste, entre os pontos cardeais onde
se acha, quando se foi? ontem, anteontem
já não sei, e nem se volta
a beleza se persiste é da mais difícil,
cumpre o seu dever, faz a ronda
despe-se nas mesas e camas dos decapitados
nos asilos iluminados nas prisões e fábricas
faz-se esperar, e não te prefere
nem trata melhor, não te paga as contas
não te dará família, antes te obriga a buscá-la
entre todos os vícios, os dados, a garrafa
a pôr sempre entre aspas vida e morte
não te deixa sequer um eco
furta-se ao contorno que lhe lanças
e não serve se te tocas tentando fixá-la
só deixa que a falem entre si
aqueles que sabem, e viram
como o mundo amadurecia, rasgando-se
contra o nosso fôlego,
os que partilham o olhar inquieto
as marcas da espera que nos despedaça.


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