sábado, abril 04, 2020


Odeio as viagens e os exploradores
mas coço e remordo-me, esmago na pele parasitas
coleccionados sem querer
em tão remotas ou exóticas paragens,
sítios onde nunca pus os pés,
sinto que deixei lá noites mal dormidas
perseguido entre escritos esparsos e fragmentários
tanto cuspo, cordel, o colibri necessário ao quinto acto
candeeiros que persistem num subtil tremular
a rosa que devora tudo antes de se deixar
desfazer num suspiro quente,
a rosa ávida que se serviu do pior de mim,
dos sonhos de que saí aos gritos
e em troca expira esplendor e eclipse
Hoje, que gestos te servem de remendo?
Deixa a água correr, faz a barba
a todos esses tipos que fazem fila
quando te olhas no espelho
Juntos, afastam-se de um mundo envelhecido
das mulheres que de dia nos mordem
nos perturbam o sangue como de noite
o fazem os percevejos. Ilhado,
sou um estudo frio de tantos outros
educando ciúmes, a balouçar-me num breve olhar,
regressando de uma ira imensa com que colhi
do jardim perdido entre as antigas pragas
esta flor que do teu cheiro tirou a receita
para um final tão inclemente que se ri


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