sábado, março 28, 2020


Fiz um órgão vital de um mosquito que selei
numa gota de mel, enviei-to como carta,
O poema tresandava do cheiro de ter estado preso
tê-lo lido aos ratos e às estações, ter escondido riquezas
nele, quadros, retratos, lenços
de bolso, bandolins e metáforas,
Sabes o que é, caprichos de ladrão,
de um bom gosto sagrado
Que árdua é a ingenuidade, ter-se um talento
que te perdoe quantos crimes sejam necessários
A noite movendo-se aflita em torno:
O que foste fazer?
Estórias, senhas, segredos, leituras da posição
dos astros, espreitando no buraco
entre quartos, camas desfraldadas, jardins abertos
depois do sexo,
O pincel pousado, o fauno vendo morrer o seu
labirinto, a beleza que alguma vez posou
para mim, dói-me de todas, cresce, volta-se
Deixou que perdesse família, posição,
bom nome; e o que lhe fiz
É um monstro, a musa,
mas que coisas sabe, e me diz,
O chamar-me tão tarde
quando ninguém no mundo tem nada,
Como te levanta te põe um dedo nos lábios,
E te diz aqui, ali, não, frio, morno, sim
Desce, esquivo, faz-te intruso, adoece e muda
Tem-me vivo, atento, pronto
Atreito à errância, bom para recados
A seguir a lua, bebê-la, levar a cara às fossas,
lavar-me como faziam os santos,
ver-me nu, passando fome, de uma brancura
que cintile, cabra, tudo o que queiras, onde
e como queiras.


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