segunda-feira, março 09, 2020

Kraus


No café, entre amigos, no trabalho ou no restaurante, não há perigo em protestar contra a “insanidade da guerra”. E quantos se embeveceram com aquela horrenda pomba da paz que Picasso ofereceu a Estaline? Kraus disse algo de muito diferente: disse que a paz se funda no massacre e que a guerra é o baile de beneficência no qual a humanidade encena o que normalmente faz, mas de que não fala, de modo a que o público se entusiasme e faça pequenos donativos em número suficiente para que o massacre continue. Ao contrário de muitos, Kraus não retratou os horrores da guerra. Limitou‑se a anunciar a definitiva impossibilidade da paz: 
O OTIMISTA: Mas todas as guerras até hoje acabaram com uma paz. 
O ETERNO DESCONTENTE: Esta não. Esta não se desenrolou à superfície da vida, destroçou a própria vida. A frente de batalha expandiu‑se para o interior do país. Vai aí permanecer. E a velha atitude mental vai juntar‑se à vida transformada, se ainda houver vida. O mundo desmorona‑se e ninguém se vai dar conta. Ninguém se lembrará do que aconteceu ontem; ninguém verá o que está a acontecer hoje; ninguém receará o que vai suceder amanhã. Todos esquecerão que se perdeu a guerra, esquecerão que se começou a guerra, esquecerão que se levou a cabo a guerra. É por isso que ela não vai acabar.

Sem comentários: