segunda-feira, março 09, 2020

Calasso


Os grupos não são uma expressão de espontaneidade democrática. A sua origem é muito mais antiga. Formam-se sempre grupos em redor de um cadáver. Quando não existe cadáver, esse espaço vazio evoca os muitos cadáveres que aí estiveram e os muitos que ainda hão-de estar. É o último rito que mantém coesa a sociedade civil. O grupo é um “cristal de massa”. Aqueles que o compõem obedecem a uma vocação, revelando de súbito a sua pertença a uma vasta seita: seguidores devotados de um poder oficialmente inócuo, essencialmente persecutório: a Opinião. Empurram-se e acotovelam-se sem disso se aperceberem; todos convergem para o mesmo ponto, que é o círculo vazio no centro do grupo. Aí, como fez notar René Girard, puderam ver certa vez o corpo mutilado da vítima do linchamento original.

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