quinta-feira, dezembro 15, 2016

Eu queria viver Contigo


... Eu queria viver Contigo,
numa pequena cidade
onde o crepúsculo é eterno
e o repicar dos sinos também.
Num modesto hotel rural –
com o som minimamente audível
de um antigo relógio – como gotinhas de tempo.
Por vezes, a meio da tarde, vinda de qualquer sótão –
a melodia de uma flauta
e o flautista junto à janela,
grandes tulipas nas varandas
e entretanto é possível que Tu
nem nunca me tenhas amado...

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No meio da sala – uma lareira de azulejos,
em cada azulejo – um desenho:
uma rosa – um coração – um barco. –
E na única janela –
neve, neve, neve.

Tu estarias deitado – como gostava de ver-te:
preguiçoso, indiferente, descuidado.
Uma vez por outra o raspar
de um fósforo.

O cigarro arde e apaga-se,
na sua ponta treme,
como um poste consumido – a cinza.
Dá-Te preguiça sacudi-la –
o cigarro inteiro atravessado pelo fogo.

10 de Dezembro 1916

- Marina Tsvetáieva 
(versão a partir de tradução de Natalia Litvinova)


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