sexta-feira, julho 19, 2013

8.


E súbita, desde logo
porque sim, a alegria.
Só, porque ela quis,
veio. Tão vertical,
tão de uma graça inesperada,
tão dádiva caída,
que não posso crer
que seja para mim.
Olho ao meu redor,
procuro. De quem seria?
Será daquela ilha
escapada do mapa,
que passou a meu lado
vestida de menina,
com flores ao pescoço,
traje verde um grande
salpicar de aventuras?
Não se lhe terá caído
a um três, a um novo, a um cinco
deste agosto que começa?
Ou é a que vi tremer
atrás da esperança,
ao fundo de uma voz
que me dizia: "Não"?

Mas não importa, já.
Comigo está, leva-me.
Arranca-me à dúvida.
Sorri-se, possível;
toma a forma de beijos,
de braços, até mim;
põe cara de ser minha.
Ir-me-ei, irei com ela
a amar-nos, a viver
tremendo de futuro,
a senti-la de pressa,
segundos, séculos, sempres,
nadas. E hei-de querê-la
tanto, que quando chegue
alguém
– e não se verá,
não se lhe hão de sentir
os passos – a pedir-me por ela
(é seu dono, era sua)
ela, quando a levem,
dócil, a seu destino,
virará a cabeça
olhando-me. E verei
que agora sim é minha, já.

- Pedro Salinas
in La voz a ti debida

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